quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Há quanto tempo não vinha ao blogue!

Há quanto tempo não vinha ao blogue! O tempo passa imprime e traça... e como diz Rainer Maria Rilke :"...há que ter paciência com tudo o que está por resolver no coração...que se deve amar todas as perguntas como se fossem salas fechadas ou livros escritos numa língua muito diferente das que conhecemos..."
Tenho pois levado tempo a viver dentro das perguntas e a decifrar livros com línguas diferentes das que conheço. Procuro inventar a estrada a cada passo mas sinto que ando em círculos e que me disperso em muitas direcções ao mesmo tempo. Tento desligar as memórias do que já foi, do que já não é...e apenas ser!
"... Deixar amadurecer cada semente de uma emoção dentro de nós, no escuro, no inconsciente, inacessível ao próprio entendimento, e com profunda humildade e paciência aguardar a chegada de uma nova claridade...ser como a árvore que não comanda a seiva e que enfrenta tranquila as tempestades da Primavera sem receio que o Verão não chegue."
O Verão chegará e com ele o tempo das respostas. Há que ter paciência e ultrapassar a dor para além do Adamastor.

domingo, 11 de dezembro de 2011

O Amor dá espaço

Não podemos comunicar profundamente, enquanto nos separarmos daqueles que amamos. O amor não guarda mágoas, não dirige, não exige e não se impõe. O amor dá espaço, apoia, confia e integra-se, expandindo-se com aquilo que abraça.

sábado, 3 de dezembro de 2011

A Bordo

(...)Quantas noites - ah! vidro redondo da minha cabina, vigia fechada - quantas noites te contemplei estendido na cama, dizendo para comigo: Quando este olho esbranquiçar, a alvorada terá chegado; então levantar-me-ei e sacudirei o meu mal estar; a manhã levará o mar e acostaremos em terra desconhecida. A manhã chegou sem que o mar se tivesse acalmado, a terra estava ainda longe e o meu pensamento cambaleava pela face móbil das águas.
Enjoo de que toda a minha carne se lembra. Prenderei o meu pensamento àquele cesto de gávea vacilante? Ondas, verei apenas a água dispersar-se ao vento da tarde? Semeio o meu amor na vaga, o meu pensamento na planície estéril das ondulações. O meu amor mergulha nas vagas que se sucedem e se parecem. Elas passam e o meu olhar já não as reconhece. Mar informe e sempre agitado; longe dos homens, as ondas calam-se; nada se opõe à sua fluidez, mas ninguém pode ouvir o seu silêncio; embatem na mais frágil chalupa e esse som faz-nos crer que a tempestade é ruidosa. As grandes ondas avançam e sucedem-se sem qualquer ruído. Seguem-se, e cada uma subleva a mesma gota de água, quase sem se deslocar. Só a sua forma passeia; a uns instantes, do mesmo ser; prossegue através de cada um e, depois, abandona-o. A minha alma não se agarra a nenhum pensamento. Atira cada pensamento para o vento do mar alto, que o toma; nunca o levarás por ti mesmo aos céus.
Mobilidade das vagas, tornaste o teu pensamento tão cambaleante! Não edificarás nada sobre a onda. Ela escapa a qualquer peso.
Depois desta errâncias para um lado e outro, chegará por fim o doce porto onde a minha alma finalmente repousada, olhará para o mar de um sólido molhe de um farol giratório ? (...)

André Gide in Os Frutos da Terra

domingo, 27 de novembro de 2011

Poesia para Levar

Hoje os carros dançam. As casas movem-se levemente. E eu - que mudei de casa e de roupa, de cidade e de cama, de palavras...Eu, que mudei de música e de carro, de saudade, de quarto...Eu - que mudei de computador e de rua, de eternidade e de paisagem, de abraço e de clima...Eu - que mudei de língua e de lágrimas, de Deus e de caderno, de crenças e de céu...Eu - que mudei de lume, que mudei de medos...Eu - que mudei de planos, de lençóis, de secretária... Eu - que mudei de óculos e de rumo, de amigos e de champô, de rituais e de supermercado... Eu - que mudei de tudo que em quase nada mudou, mudei de dentro de mim para dentro de ti, meu amor.


Filipa Leal
in Talvez os Lírios Compreendam, 2004

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"Gala Mozart"

Com a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, assisti ao memorável concerto " Gala Mozart", com a participação do excelente pianista António Rosado, na primeira parte do concerto. É um privilégio assistir ao vivo a um concerto com a divina música de Mozart. Saliento que este privilégio, está ao alcance de qualquer bolsa, pois a entrada é grátis.
Quando se fala que a cultura não está ao alcance de todas as bolsas, e que ainda por cima, estamos em tempos de crise, que dizer da entrada absolutamente gratuita, para um espectáculo de grande qualidade num auditório recente e moderno! Basta ser amante de boa música e estar informado do respectivo programa cultural da referida orquestra.