terça-feira, 8 de novembro de 2011

Esta Noite, Outra Noite

Há saídas em que o inesperado acontece. Um convite de amigos para uma sessão de "Contos de Humor Negro" acompanhada de guitarra eléctrica, no Bar A Barraca (onde se situa o teatro com o mesmo nome) foi uma oportunidade de rever amigos "contadores de Histórias", que já apresentam em palco o seu próprio espectáculo.
Como cheguei cedo, tive também oportunidade de observar o ambiente descontraído de ameno convívio entre grupos. Na mesa, onde me sentei, reparei num folheto intitulado "Poesia pra Levar"e inesperadamente fiquei agarrada à leitura de um poema. Reparei depois que cada mesa tinha o seu folheto de " Poesia pra Levar" com um poema diferente!
Eis aqui uma fórmula simples de divulgar a poesia e onde até podemos levar um poema para casa!
O poema que trouxe é o seguinte:

Esta Noite, Outra Noite

Esta Noite, outra noite,
esta manhã que nasce pelas frinchas
da janela entreaberta,
por planaltos e vales caprichosos,
lagos azuis, ravinas, e pinhais,
irei de vez em quando perguntando onde existes? onde estás?
Talvez te enroles no lençol, ou seja tua esta voz que canta em língua estranha,
ou por galáxias amplas de aventura
noutro quarto quebrado me procures
para existires em mim uma vez mais.
Que medo tenho de ir perdendo a sorte
em armários de gente contrafeita,
e ser, quando voltares, imunda fera
morta, sem dentes, numa esquina ou poço,
o último exemplar da sua espécie;
eu que seria jovem para sempre
em cada pensamento, em cada gesto,
em cada rima obscura o teu verso.

António Franco Alexandre

in Uma Fábula, Assírio & Alvim


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